Sonhos e Pensamentos

Em que longe abismo ou céu do olho o fogo te acendeu? Com que asas se atreve a voar? Que mão ousa o sol pegar? (william Blake)

quarta-feira, agosto 31, 2005

O Silêncio

Caminhava sobre o sol escaldante, o mormaço que subia do asfalto queimava-me as narinas, fritava os miolos, derretia a sola do chinelo. Respirar ficava cada vez mais difícil.

Prosseguia, não sabia bem para onde, nem uma árvore, nenhuma sombra, nenhuma casa, só o sol escaldante e o deserto que derramava em meus olhos o fim. A ausência de vida me sufocava o peito. Respirar ficava cada vez mais difícil, cada vez mais distante.

Os olhos se fechavam, a respiração pesada, tinha pressa em chegar, os passos ficavam mais lentos.

Faltava-me força. Fitava o nada, o longe - nenhuma trégua foi concedida. Eu buscava. O sol na nuca, a cabeça baixa, meu corpo renunciava ao dissabor daquele dia, mas prosseguia. Faltava saliva, faltava ar. Meu coração batia no compasso dos passos tumtum tumtum tum tum cada vez mais lentos.

Não havia esperança, não nele, nem agora, nem outrora. Não havia mais esperança. Meu estado é de espera. Meu silencio é sem cor e esfacela o peito.

Me dá a sombra, me estende a mão e me guia por entre ruas, poças e espasmos. Me aquieta a alma, porque sozinha eu não vou conseguir. Eu não vou conseguir.

sexta-feira, agosto 19, 2005

A Noite

- Qual é coisa que mais quer nesse mundo?

- Acho que só sobreviver a esta noite já estaria ótimo.

terça-feira, agosto 16, 2005

A Viagem

Para Marcelo

Me perdoa? Perdoa o sofrimento mesmo que involuntário. Te quero bem, agora, mais que a mim mesmo. É que não consegui, a rua acabou numa curva, começou chover e me desmanchei em água, em rios, em lágrimas. O vento me bagunçou o cabelo, levou meus papeis e fiquei assim, meio doida, meio estúpida. Sabe o que foi? A minha terra é seca, não dá frutos, nem flores, nem mato, nem bicho. E te digo, não adianta cuidar, adubos, remédios, água e afins, é fato.
Me perdoa? Perdoa os tropeços, as mancadas, as palavras. Perdoa as palavras? É fuga sabe? É tentativa, eu preciso ir, juro. Sou solidão, veja bem, sou pó, sou nada.
Fui mais bonita diante dos teus olhos. Te dei os anos e me desse o centro, assim, assim.
Faz um avião de papel e voa, vai. Ta chegando uma brisa, pega ela, não espera, pega. Voa porque à noite há de acabar e há de surgir um jardim com árvores frondosas de frutas jamais vistas e uma pista enorme. E quando quiser me encontrar olha pra dentro, eu estarei lá.

EU

Queria aprender inglês, queria emagrecer, queria ler mais, queria ver mais filmes, queria voltar a dançar. Queria lembrar dos aniversários dos meus amigos e da minha família. Gosto de música francesa, mas não tenho nenhum cd. Descobri que não tenho alma gêmea, descobri que me apaixono (mesmo) rápido demais, sofro rápido e não esqueço tão rápido assim. Sou intensa, forte, frágil e vulnerável (as vezes). Não tenho disciplina, começo e paro muitas coisas antes de acabar. Eu choro. Eu brigo e me arrependo depois. Eu bebo e me arrependo depois. Eu realmente prefiro os bichos aos homens. Amo minha família. Amo minhas cachorrinhas, elas são em muitas horas meus momentos de felicidade. Eu serei sempre perdidamente apaixonada por Vinícius (de Moraes). Eu gosto de quem me faz rir. Café quente aquece minha alma. Tenho saudades do que vivi e do que não viverei. Tenho uma tristeza latente no peito. Sempre acho que alguma coisa vai acontecer, para melhor ou pior. Eu sonho muito, sonho os meus desejos. Gosto dos meus olhos mesmo sabendo que nem sempre as pessoas os vêem. Tenho medo de olhar para trás e ver o que fiz (ou não fiz) da minha vida. Eu quero ser feliz e tenho muito medo de não ser.

segunda-feira, agosto 08, 2005

SONHO

Foi assim, estava chegando em casa de madrugada e escutei um gato miando. Fui procurar e ele estava debaixo da escada da minha casa (que na verdade não tem escada). Aí peguei o gatinho que era filhote e levei pra casa escondido das minhas duas cachorrinhas. Enquanto cuidava do gatinho me sentia agoniada porque queria olhar minhas mensagens no orkut, tinham 8 scraps novos e estava ansiosa para saber quem as tinha deixado. Aí pensei assim, “mas que coisa, esse orkut é uma praga, vicia”. Acordei com uma das minhas cachorrinhas cheirando meu rosto.

quinta-feira, agosto 04, 2005

PENSAMENTO

Ela chegou vestida de flor, exalava uma essência que perfumava o mundo.
Ela trazia música, suave, doce e bailava por entre os jardins, as ruas, sobre sua dor, ela bailava e sorria.
Ela trazia o vento pra lhe soprar os cabelos e deles voavam estrelas que invadiram a noite.
Ela vinha vestida de luz, violeta (acho), e sua luz iluminava o mundo, e ele sorria, o mundo pra ela.
Ela sorria sua música, cantava suas lágrimas, chorava suas alegrias, é, ela ia.



Foto: Tieres Tavares (meu amigo)

terça-feira, agosto 02, 2005

PENSAMENTO

É que doía, era um mal-me-quer, um desalento, desconforto, desgosto e desencanto. Doía, queria esquecer, dormir, qualquer coisa menos sentir. Ele não sabia, mas tinha me despertado um não-sei-o-que, um sentido, um gosto de morango na boca, um gosto de boca pura, ora suado, ora úmido, ora sugado. Queria preencher suas lacunas, entender as entrelinhas, a dor que por hora escorria, mas que não era minha. É que de repente ler doía, ver também. Era profunda e eu não entendia, apenas sentia. Queria mandar meu pensamento para não sei onde, mas queria, pro mundo, pra fora. É que de repente eu era metade sem ter sido inteira, luz desligada, facho sem cor, eu era pó e fenecia. É que eu não tinha nada, nenhuma linha bonita, nenhuma palavra rasgada, apenas minha história, apenas minha dor. E ele que nem sabia da minha dor...

(Para você que eu nunca vi)

Saudade é um pouco como fome. Só se passa quando se come a presença. Mas as vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira, é um dos sentimentos mais urgente que se tem na vida.
Clarice Lispector